domingo, 2 de agosto de 2020

A VIDA E SEUS PERCALÇOS E DESENLACES.

Em junho de 1969 fui transferido de Lorena,no Estado de São Paulo,para Recife. Acreditando em informações imprecisas tentei impor condições para a empresa. O que eu não sabia, e nem meus informantes, era que no contrato de trabalho tinnha uma armadilha; uma cláusula com base no parágrafo 2º do Art.469 da CLT, que na admissão eu concordei oficialmente e que dava à empresa o direito de  me transferir para ''todo o território nacional''.Por me recusar a ir para Recife fui demitido com JUSTA CAUSA por rompimento  unilateral de contrato. A justa causa foi ''POR BONDADE''revertida,ou seja, a empresa ''me perdoou''de uma punição definida em  lei como falta grave. A demissão foi mantida. O que resta deste relato é que, à época,um jovem com 21 anos, por conta das minhas relações com amigos, namorada e o pessoal que convivia ,FUI RADICAL AO PONTO DE SER PUNIDO SEVERAMENTE por resistir em ir para uma localidade tão longe . Três meses depois  o patrão, pessoalmente, resolveu me recontratar atendendo minhas pretensões,justamente para trabalhar em Recife.Deixando tudo e todos, lá fui eu.Foi, apesar do salário dobrado, extremamente difícil .Fiquei em Recife 5 anos e  perdi para sempre minhas relações na minha terra. No dia 8 de setembro embarquei. Tive que ir de ônibus, pois naquele 4 de setembro o embaixador Americano foi sequestrado no Brasil e os militares estavam pegando todo mundo nos aviões e, para piorar, eu não tinha providenciado ainda a identidade civil. A viagem foi tumultuada por conta do sequestro do Embaixador. Fui revistado várias vezes por tropas militares que estavam  na busca dos sequestradores. Salvava-me de maiores problemas um telegrama e o endereço da empresa em Recife ,onde me apresentaria ,e do escritório em São Paulo—minha origem—.  Ao saltar na rodoviária de Recife, 52 horas depois, fui abordado por policiais do antigo DOPS que  me fizeram abrir a mala em público e revistaram todas as minhas TRALHAS já exalando ''odores'' desagradáveis. Ao  chegar ao meu destino fui fazer um lanche , foi quando dois PMs adentraram ao local de armas em punho . Lembro-me de ter ouvido:''Mãos para cima ''GALEGO'' .Fui Revistado como um criminoso. Neste momento, abatido e já sem fome, afastei-me num canto e com a cabeça debruçada sobre uma mesa, fiz  o que restava fazer: CHORAR! E chorei. E chorando arrumei minha primeira amiga no Local,a Fátima, dona da lanchonete que gentilmente provindenciou chás calmantes e ainda  se encantou com o meu ''PAULISTÊS''arrastado e caipirão. A Fátima   levou-me até Hotel onde me hospedaria...O resto é história! Uma triste história, diga-se, mas que, diante da necessidade teve um desfecho completamente inesperado e inimaginável.  Em janeiro passado conheci a igreja de São Francisco Xavier, na Tijuca, no Rio, que fica ao lado do hospital que operei o nariz. Foi nessa igreja que um dos sequestradores do embaixador,o Fernando Gabeira, deixou um bilhete*** endereçado aos militares exigindo à soltura e o exílio de 21 prisioneiros em troca da vida do embaixador. Isso foi no dia 5 de setembro de 1969.Os prisioneiros embarcaram num Hércules da FAB no dia 6 de setembro e chegaram no México 18 horas depois,já no dia 7 e eu desembarquei em Recife no dia 8.O embaixador Americano, Charles Burke Elbrick, foi liberado no dia 7 durante um jogo amistoso no Maracanã.
***Foram dois bilhetes, o outro foi depositado numa lixeira na Igreja no outeiro da Glória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

sorte é sorte

Às vezes relutamos em creditar nossos êxitos na vida à sorte. Preferimos atribuir um ganho material  ou um resultado positivo à nossa inteli...